segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Poluição deve ser maior causa de mortes, diz especialista -

Poluição deve ser maior causa de mortes, diz especialista -


Hermano Freitas

Direto de São Paulo


O ritmo acelerado das mudanças climáticas e a crescente poluição atmosférica devem ser as maiores ameaças à saúde do homem e a principal causa de mortes nos próximos anos. Esta é a conclusão do encontro mundial de médicos especialistas em Copenhagen, na Dinamarca, segundo o médico Paulo Saldiva.

Saldiva, que coordena o laboratório de poluição da Universidade de São Paulo (USP), foi o único brasileiro a participar. Ele afirma que a preocupação com as emissões de carbono deve ser formalizada em um documento, a ser elaborado no próximo mês, em novo encontro na Índia. A ideia é elaborar uma recomendação a ser entregue na próxima conferência sobre clima, que será realizada também em Copenhagen.

Após retornar do encontro da Associação Médica Mundial e da Organização Mundial da Saúde, realizado nesta semana, Saldiva criticou a timidez da resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que fixa em 2013 a data para que carros emitam a quantidade de carbono que hoje é produzida pelos carros americanos e europeus.

Confira os principais trechos da entrevista:

Como o senhor vê a última resolução do Conama?
Não podemos negar que há um avanço, mas é um avanço dentro de um retrocesso histórico. Do ponto de vista da saúde da população, continuaremos atrasados porque teremos em 2013 o que os EUA e os países da Europa têm hoje. Seguiremos defasados, portanto. Podemos dizer que foi um passo para a frente depois de 10 para trás.

Onde a medida poderia ter avançado mais?
Poderia ter sido aprofundada a questão da limpeza dos combustíveis. O diesel brasileiro ainda é péssimo, muito poluente. Enquanto seguirmos dando incentivos à indústria automobilística uma resolução como a do Conama parecem mais uma pirotecnia eleitoral do que um compromisso sério com a saúde da população.

A resolução é divulgada em meio ao debate sobre a exploração do Pré-Sal. Como fica a exploração do petróleo neste contexto?
O Pré-Sal está sendo vendido como uma panacéia para todos os problemas econômicos do País. Mas quem garante que daqui a 10 anos não será visto como um mico? O encontro de que participei concluiu que as mudanças climáticas e a poluição atmosférica será o maior problema de saúde e a principal causa de mortes. Na hora em que faltar comida e água ninguém vai lembrar do petróleo do Brasil.

Como reduzir, então, o consumo do combustível fóssil?
Precisamos de políticas sérias que levem em conta a saúde das pessoas. Sei que o representante de algum setor pode dizer que sou ingênuo, mas haverá alguns que perderão. Precisamos reduzir já o uso do solo para o automóvel, investir em transporte público, caminhar, usar bicicletas, reduzir as emissões de carbono. Não fiquei impressionado com (a resolução do) Conama, não me deu esperanças como médico nem como cidadão brasileiro.

Redação Terra